segunda-feira, 15 de outubro de 2007

The Aviator (2004)

O Aviador é o excêntrico milionário industrial Howard Hughes (Leonardo DiCaprio). Herdeiro de uma empresa de ferramentas petrolíferas, muda-se para Hollywood, onde a sua fama oscila entre os filmes que realiza e produz – por exemplo, Hell’s Angels (1930) e Scarface (1932) – e o seu envolvimento quase compulsivo com diversas das mais belas mulheres do cinema – Katharine Hupburn (Cate Blanchett) e Ava Gardner (Kate Beckinsale) são apenas duas. Mas, situado entre os anos 1920s e os 1940s, o filme centra-se sobretudo no seu fascínio pela aviação, à qual dedica boa parte da sua fortuna, do seu tempo e da sua sanidade mental; e à sua luta contra as suas debilidades físicas como a surdez e as fobias relacionadas com a limpeza, incutidas desde cedo por uma mãe super-protectora, e culminando num comportamento obsessivo-compulsivo que o levou ao isolamento.

Eu não sou de blockbusters, mas tenho que dar o braço a torcer: The Aviator é um bom filme. Primeiro, porque Scorsese é um realizador de detalhes, um bom contador de histórias e um exímio director de actores. Segundo, porque tem uma riqueza visual e um ritmo quase musical entre o excesso da fama e o excesso da demência. Terceiro, por que é um biopic, apesar do meu desconhecimento quase completo do Howard Hughes real. Talvez seja por isso que vem o quarto, a história da ascensão e queda de um homem que hipotecou tudo por uma paixão. Quinto, a qualidade extrema do elenco.

Este é o melhor filme de DiCaprio, sem dúvida. Mas o estigma do “menino bonito” ainda lá está. Ao contrário de Johnny Depp, que conseguiu distanciar-se da sua beleza através de uma criteriosa escolha de papéis, DiCaprio tem sido menos ambicioso e arriscado, o que, pelo que vemos em The Aviator é uma pena, porque o potencial existe. Fiquei satisfeito por me ter conseguido abstrair do actor (e do preconceito) em boa parte do filme, em especial durante os momentos mentalmente mais perturbados de Hughes. Por favor, um dia destes alguém dê a DiCaprio um papel de psicopata!

O seu trabalho de representação é tanto mais impressionante quando consideramos que acompanha a bom passo a impressionante qualidade do restante elenco: desde uma corrosiva e sarcástica Katharine Hepburn, a uma Ava Gardner matadora, desde um implacável Juan Trippe (Alec Baldwin) a um sensível Noah Dietrich (John C. Reilly), desde um detestável Senador Brewster (Alan Alda) a um delicioso Professor Fitz (Ian Holm).

Se há algo mais fascinante que ver o glamour das estrelas, é acompanhar, com a indecente intimidade que apenas o cinema permite, o longo e tortuoso caminho até ao lado mais assustador do sonho – a loucura. The Aviator dá-nos isso com um equilíbrio, uma dignidade e uma consistência extremas.

No meu cepticismo, creio que o talentoso trabalho de Scorsese continuará a passar ao lado do prémio da academia. Felizmente, o público é bem mais inteligente que isso. 7/10

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