
O filme de Richard Eyre (Iris) beneficia de personagens profundas e desenhadas em detalhe, interpretadas com ferocidade por uma Cate Blanchett (Babel) de intensa beleza e à beira do colapso nervoso e uma Judi Dench (Mrs. Henderson Presents) simultaneamente ameaçadora e vulnerável, que, do alto dos seus 72 anos abdica de toda a vaidade. A par desta dupla está Bill Nighy, cuja interpretação tem um peso dificilmente comparável ao cantor Billy Mack de “Love Actually” ou ao pirata Davy Jones em “Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest”.
A narrativa move-se ao ritmo da narração de Barbara, que descreve subjectivamente os acontecimentos da sua vida num diário, adensando a atmosfera claustrofóbica de uma obsessiva, possessiva e retorcida forma de amar. Apesar da cena final quebrar a força de um final que se queria mais dúbio, o texto de “Notes on a Scandal” é belíssimo e impregnado de humor inteligente. Quando às emoções, as mais fortes decorrem no apartamento de Barbara, onde a música de Phillip Glass coloca os nossos nervos em ponto de ebulição e onde temos o prazer de ver contracenar duas actrizes de excepção.
Como conselho paternal fica o “cuidado com o desnível”, aquele que se abre – por vezes, perigosamente – entre a vida que construímos e aquela que imaginámos. Como ansiedade final fica a tendência patológica do ser humano procurar o seu sentido nesta e não naquela. 7/10
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