quarta-feira, 18 de novembro de 2009

District 9 (2009)




Ano: 2009
Estreia nacional: 24 de Setembro de 2009

País: EUA
Género: Ficção Científica

Realização
Neill Blomkamp

Intérpretes
William Allen Young, Robert Hobbs, Jason Cope


Sinopse

Há vinte anos atrás, uma nave extraterrestre apareceu sobre a Terra. Os Humanos esperavam um ataque hostil ou observar grandes avanços tecnológicos. Em vez disso, encontraram um grupo de não-humanos refugiados, possivelmente os últimos sobreviventes da sua espécie.

Enquanto as Nações de todo o Mundo discutiam sobre o que fazer com eles, as criaturas foram relegados para um gueto - Distrito 9. A Multi-National United (MNU), uma empresa de segurança privada, e também a maior fabricante de armas do Mundo foi contratada para supervisionar os visitantes. O verdadeiro objectivo da MNU é descobrir o segredo para a activação das armas mais poderosas, que requerem o DNA dos não-humanos.

O clima de tensão entre os não-humanos e os humanos surge quando um agente de campo da MNU, Wikus van der Merwe, contrai um vírus misterioso que começa a converter o seu próprio DNA. Wikus rapidamente se torna o homem mais procurado em todo o Mundo, bem como o mais valioso - ele é a chave para desvendar os segredos da tecnologia não-humana. Sem ajuda de ninguém, há apenas um lugar onde ele se pode esconder - Distrito 9



Critica Bilhardas


Polémica instalada, sucesso garantido. Não bastasse o estrondoso sucesso nos Estados Unidos, quer de bilheteira, quer de crítica, District 9 ainda conseguiu a proeza de ser banido na Nigéria, cuja censura considerou que os eventos relatados na fita prejudicam severamente a imagem deixada pelo povo nigeriano. O resultado? Muito provavelmente estaremos perante um sucesso comercial ainda maior que abrangerá uma significativa parte do globo tornando esta produção anti-blockbusteriana numa referência ao nível do lado mais obscuro de Hollywood, ou seja, aquele inerente à arrecadação de capital. Mas não nos enganemos, desde os primórdios da sétima arte que o cinema foi visto como um negócio lucrativo e global. Aliás, ainda antes de ser considerada uma arte, o cinema foi desenvolvido por homens de negócios com uma incrivelmente apurada visão que idealizaram um mundo onde a imagem corresponde a cifrões.

E se analisarmos o século que passou desde então percebemos que pouca coisa mudou a esse nível. Houve uma clara evolução (e certamente continuará a haver) mas uma coisa é certa: para que a indústria continue a funcionar precisa incessantemente de papel verde, o combustível de toda uma vida.


Ora, referindo-me mais concretamente a District 9 devo mencionar que não estamos, quanto a mim, perante a obra-prima que muitos proclamam mas, de facto, é inegável perceber que Neill Blomkamp nos ofereceu um produto muito competente e, sobretudo, muito metafórico, o que se revela o primordial trunfo de toda esta construção. Sob a alçada do todo-poderoso Peter Jackson, Blomkamp foi capaz de dar significado a tudo aquilo que escreveu. Argumento esse que consegue atingir níveis de satisfação elevados mas que infelizmente perde-se na última meia hora. Mas já lá vamos. Primeiro é fundamental destacar a tal componente metafórica que referi supra e que de resto é o primordial leitomiv para levar esta fita mais além.

A primeira que assombra a nossa visualização depara-se com o abuso de poder dos humanos e as suas consequências devastadoras. Pensemos, por momentos e de forma hipotética, que seres alienígenas invadem a privacidade dos humanos e que estes ripostam de forma extremamente célere através de uma violência corrosiva. Muitos pensarão: “Só têm aquilo que merecem”. Contudo, proponho agora uma análise à imagem que se apresenta do outro lado do espelho. Pensemos agora que os humanos, enquanto “intrusos” neste planeta, ameaçam diariamente a subsistência desta natureza. O que se sucede? De uma ou outra forma ela vai respondendo da melhor forma que consegue e quem sofre as devastadoras consequências somos nós, os humanos. É uma relação frutífera e simbiótica? De todo… mas dificilmente as atitudes e mentalidades poderão mudar abruptamente. Deste ponto de vista, Disrict 9 é também um filme “verde”.


Obviamente, e tendo em consideração o progresso da narrativa, rapidamente nos apercebemos que está lançado o mote para criticar veementemente a intolerância, o racismo, a xenofobia e a forma como a violência potencia um elo de ligação entre os vários campos de descriminação social. E aproveitando para fazer uma antecipação ao mais recente e polémico documentário de Michael Moore, Capitalism: A Love Story, District 9 mostra-se assaz competente nessa tarefa de criticar o mundo capitalista. Mas não é só, nesse ataque também está presente a forma mais ácida de corrosão humana: a corrupção. Tais críticas são igualmente reforçadas através do apontar de dedo à manipulação a que os meios de comunicação sujeitam os seus seguidores. Tal facto processa-se através de um conjunto de notícias falaciosas e, em bom português, “interesseiras”.


Mas mais do que um conjunto de metáforas, District 9 é, na sua essência, um mockumentary extremamente original que coloca o mundo da ficção científica num novo patamar. Isto processa-se muito graças a um conjunto de características originais e inventivas, quer nos estejamos a referir à concepção genial (criaturas simples mas eficazes. CGI extremamente competente), ao argumento interessante ou às interpretações intensas e poderosas. Se quiseres, nesse particular, podemos pensar na fita de Blomkamp como um novo [Rec] no que à intensidade diz respeito. Contudo, District 9 detém a capacidade de ser mais dinâmico além de ser capaz de manter uma estrutura claramente mais coesa. O realizador desta interessante fita conseguiu ser muito eficaz no seu trabalho, sobretudo no que toca ao seu papel atrás das câmaras. Curiosamente, o filme perde por ser demasiado “humano” e nesse campo, Blomkamp teve a capacidade de criar uma boa estrutura narrativa, surpreendente até, até à última meia hora. A partir daí, District 9 cede ao facilitismo dos lugares comuns inerentes ao amor e à amizade. No que às interpretações dizem respeito, destaco o actor principal que dá pelo nome de Sharlto Copley. Este consegue equilibrar perfeitamente a sua performance ao longo das mais variadas e distintas situações. E nesse particular torna-se fascinante observar como o actor encarna a sua personagem e consegue dar um significado especial às vivências antagónicas que a vida lhe proporciona. Em suma, refiro que District 9 é um filme muito interessante, situando-se num patamar claramente acima da média. Se é verdade que não é genial, não será menos verdade proferir que merece ser visto numa grande sala e que poderá proporcionar uma experiência cinematográfica intrigante. 7/10

Site Oficial

IMDB






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