terça-feira, 4 de março de 2008

The Astronaut Farmer (2006)

Realização: Michael Polish. Elenco: Billy Bob Thornton, Virginia Madsen, Max Thieriot, Jasper Polish, Logan Polish, Bruce Dern, Mark Polish, Jon Gries, Tim Blake Nelson, Sal Lopez, J.K. Simmons, Kiersten Warren, Robert E. Fleischer. Nacionalidade: EUA, 2006.

Ainda estou para perceber como é que um grupo de bons profissionais se presta a gastar o seu talento num telefilme enjoativo como “The Astronaut Farmer”. Especialmente tendo em conta as referências dos gémeos Michael e Mark Polish de obras de qualidade como “Twin Falls Idaho” (1999) e “Northfork” (2003). Mas, em vez de um ponto de vista original sobre o poder dos sonhos (na dicotomia entre o seu lado mais inspirador e o mais destrutivo), tem-se um exaustivo conjunto de clichés sobre um herói americano.

Charles Farmer (Billy Bob Thornton) é um rancheiro texano, que deixou a sua carreira de engenheiro aeroespacial na força aérea e a caminho da NASA quando uma tragédia atingiu a sua família. Mas o seu sonho de ir ao espaço não desapareceu, e o seu celeiro foi transformado num hangar para um foguetão caseiro. A sua determinação em se lançar no espaço, orbitar umas quantas vezes em redor do planeta e regressar a casa recebe todo o apoio da sua mulher, Audrey (Virginia Madsen), e dos seus três filhos, Shepard (Max Thieriot), Stanley (Jasper Polish, filha de Michael) e Sunshine (Logan Polish, filha de Mark); ignorantes das dificuldades financeiras em que o projecto de Farmer os colocou a todos.

Quando Farmer tenta comprar a grande quantidade de combustível necessária para o lançamento, o FBI, a NASA e os media são alertados para este acontecimento surreal, indecisos entre classificá-lo como louco ou como uma ameaça à segurança nacional. Os oficiais da NASA, em concreto, torcem pelo falhanço de Farmer, uma vez que o seu exorbitante orçamento seria alvo de fortes críticas se um simples civil conseguisse fazer o mesmo que eles no seu próprio quintal e colocando o filho de 15 anos a controlar a missão a partir de uma auto-caravana.

A realização do argumento conjunto está a cargo de Michael, enquanto Mark interpreta o papel de um dos agentes do FBI enviado para supervisionar Farmer (a dupla mais interessante do filme). Mas aquilo que começa por ser um olhar interessante sobre o dilema entre liberdade e responsabilidade, sobre a dimensão doentia da suspeição governamental norte-americana (especialmente tendo em conta a “impossibilidade de insucesso” que marca a sua filosofia militar), termina num escalar de ingenuidade totalmente incredível.

Farmer ignora deliberadamente as necessidades – e as vidas! – que põe em risco, inclusive as da sua família, que, apesar do seu egoísmo galopante se recusa a fazê-lo enfrentar a realidade, uma compaixão que vai para lá do (ir)razoável. A personagem de Madsen, apesar de uns rasgos de personalidade própria, acaba por se auto-anular de uma forma quase dolorosa de assistir. É o homem fazendo os seus disparates infantis e egoístas, enquanto a mulher o desculpa e protege num amor totalmente desequilibrado.

Da mesma forma que, para Farmer, o potencial destrutivo das suas acções é irrelevante, ele atingir ou não o seu sonho tornou-se para mim, como espectador, completamente irrisório. Minto, o seu egoísmo fez-me afastar de tal maneira desta personagem que o seu falhanço começou a desenhar-se como o melhor final de todos. No entanto, tenho algumas dúvidas que fosse essa a intenção dos manos Polish. Um pouco à semelhança dos pioneiros do Oeste Americano, todos os sacrifícios parecem justificáveis face à loucura mortal de um sonho.


Muitas guerras começaram por muito menos... 5/10

Site Oficial



Sem comentários: