
Jack Mosley (Bruce Willis) é um polícia em final de carreira que se refugia na bebida enquanto espera pela morte. No final de um longo dia, Jack é obrigado a acompanhar uma testemunha Eddie Bunker (Mos Def) até ao tribunal, que dista 16 quarteirões da esquadra. Mas o que Jack não sabe é que Bunker está prestes a denunciar alguns dos seus colegas, os mesmos que, liderados pelo seu companheiro Frank Nugent (David Morse), estão determinados em não os deixar chegar ao seu destino.
A acção de “16 Blocks” decorre praticamente em tempo real. O relógio vai marcando os 118 minutos que restam a este improvável par. O jogo do polícia bom e polícia mau, com um criminoso à mistura não é novo, mas Richard Donner, responsável pela tetralogia “Letal Weapon”, “Conspiracy Theory” e “Maverick”, entre outros, consegue incutir a este género uma considerável dose de originalidade que, só por si, justifica uma ida ao cinema. Em diversas ocasiões parece ser evidente o que vem a seguir (aquele “ah, já sei, aqui agora é assim”), mas o inteligente argumento de Richard Wenk produz soluções bem mais imaginativas e menos estereotipadas.
Richard Donner faz um óptimo trabalho de suspense, aumentando a tensão de cada cena, enchendo as ruas de Nova Iorque de gente e evitando o uso excessivo de feitos especiais (tipo Michael Bay), o que confere realismo a toda a acção. “16 Blocks” consegue ser contido e ao mesmo tempo frenético. Para isso contribui necessariamente a personagem de Mos Def, com um sério problema de contenção verbal e de divagação, ao qual acresce uma voz nasalada verdadeiramente cansativa.
Os diálogos fogem também aos clichés habituais e estão impregnados de um humor inteligente (onde a ironia de Willis marca presença), e, subtilmente, constrói-se uma forte relação emocional, entre as personagens e com o espectador.
Bruce Willis está completamente à vontade na sua versão de velho, cansado, gordo, careca, lívido e cheio de rugas. A sua personagem é tão bem (e sucintamente) descrita nas cenas inicias, que não temos qualquer dificuldade em entender os seus comportamentos de quem não tem nada a perder.
Mas Willis não está sozinho. Mos Def (“The Hitchhiker's Guide to the Galaxy”), que funciona como o escape cómico e a consciência de Jack, é complexo ao ponto de despertar em nós sentimentos tão contraditórios como a raiva e a ternura. Por outro lado, David Morse (“The Green Mile”, “Dancer in the Dark”) é totalmente execrável (e perfeito) como polícia corrupto.
Porque os filmes de acção não são sempre iguais. Porque vale a pena sentir o poder que o cinema tem de brincar com as nossas emoções. E porque Bruce Willis está a envelhecer da melhor forma. 6/10
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