Claro que os filmes não se distinguem pela qualidade das suas campanhas publicitárias nem pelos seus números de bilheteira. E é isso mesmo que, aqui, importa sublinhar. Ou seja: a extrema inteligência dramática e subtileza humana desta “reconstituição” do caso de Robert Hanssen, um alto funcionário do FBI que, durante anos, e mesmo depois do fim da Guerra Fria, fez passar muita informação secreta para os russos.
O filme evita qualquer maniqueísmo, seja ele ideológico ou moral, já que se concentra nas relações institucionais do trio formado por Hanssen (Chris Cooper), o seu secretário, nomeado para o vigiar (Ryan Phillippe), e a chefe (Laura Linney) perante quem este responde.
O título original, «Breach», remete para a noção de “quebra de sigilo”. E é disso, realmente, que se trata: uma teia de verdade e mentira em que cada um existe sempre através de alguma ocultação perante o outro. Executado com a precisão de um verdadeiro mecanismo de relógio, o filme de Billy Ray desenvolve-se como um estranho calvário partilhado por personagens que acabam por ser profundamente afectadas pelas máscaras que transportam.
É um exercício de estranha decomposição humana que, além do mais, depende da qualidade exemplar das interpretações. Este é, afinal, um cinema em que nenhum efeito especial vem destruir a intensidade da presença de um actor face a uma câmara. Já agora, e porque estas coisas não acontecem por acaso, convém referir que a espantosa direcção fotográfica é de Tak Fujimoto, o mesmo de «The Silence of the Lambs ». 7/10
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