segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

9 Songs (2004)

Muitos não esperariam certamente que o realizador de “Jude”, “24 Hour Party People” e “In This World” tivesse a audácia de dirigir um filme como “9 Songs”. Filmada em vídeo digital, esta obra segue a vida de um casal ao longo de um ano. Ele é inglês, ela americana. Eventualmente ela vai voltar para os EUA, mas durante um ano eles vão viver um rol de emoções, sempre carimbadas com muita música, drogas e sexo. Muito sexo.

Normalmente eu diria que limitar a relação de um casal aos concertos a que assistem e ao sexo que fazem era algo um pouco minimalista. Porém existe uma razão bastante forte para não o afirmar no que toca a “9 Songs”. Esta é uma obra muito experimental, e como o próprio Michael Winterbottom afirmou, este filme é uma resposta à situação do cinema em geral e à sua frustração como realizador. “Pensei que se fizesse mesmo amor, em vez de estar a falseá-lo, podíamos descobrir algo emocionalmente mais honesto. E por sua vez o público poderá sentir alguns sentimentos que se sentem quando estamos apaixonados, fazemos amor ou nos encontramos intimamente (…) Fazem-se milhões de filmes sobre histórias de amor, mas todas tendem a evitar o aspecto físico.

Essa intimidade que se adquire na cama, um elemento fundamental numa relação sentimental, não se reflecte no cinema. E quando se mostra, todos sabemos que a acção é falsa. A literatura trata o sexo de igual forma aos outros aspectos da relação, de forma aberta e franca. A televisão e a imprensa mostram tudo o que tem a ver com sexo. O cinema não. Deveria ser o melhor meio para explorar estes momentos e, no entanto, evita-os”, afirmou o cineasta.

Se analisarmos profundamente as suas afirmações, teremos de lhe dar alguma razão. O cinema, na sua generalidade, trata o sexo de uma forma superficial e pouco relevante na vida dos casais. Ele existe, mas não se pode mostrar. Ou quando se mostra há limites. Mas quais são na realidade esses limites? O que é que distingue o meramente explícito da pornografia? Segundo a definição oficial, “a Pornografia é a prática de expor ou representar partes descobertas do corpo humano, e também expor práticas sexuais diversas, com o fim de instigar a libido do observador. [O termo deriva do grego πόρνη (pórne), "prostituta", γραφή (grafé), representação.]”.

Ora, seguindo esta exactidão linguística, há que dizer que “9 Songs” não é um filme pornográfico, pois não somos instigados a nada. O que nós assistimos, durante os seus 65 minutos, é à relação de um casal, mas que no fundo é um manifesto do realizador. Não estranhem assim a sua opção em mostrar sexo puro e duro, sempre intervalado pelas actuações ao vivo de bandas como os Franz Ferdinand, The Von Bondies, The Dandy Warhols, Black Rebel Motorcycle Club, Elbow, Primal Scream e Super Furry Animals. O curioso, e como o cineasta o afirmou em entrevistas, é que o ritmo dos concertos vai ilustrando a evolução do duo enquanto casal, especialmente na sua vertente sexual. E porque no sexo nem tudo são orgasmos, há também os problemas – nunca aprofundados, tal como a transposição de sentimentos do ecrã para o espectador.

Um manifesto, uma visão sexual sobre um casal (com tempo contado) ou um mero experimentalismo, são algumas das palavras-chave deste filme. O certo é que no fundo, esta obra detém algum interesse e merece uma reflexão por parte da indústria do cinema, que cada vez se mostra mais artificial na maneira como apresenta as relações amorosas.…Não é um grande filme (limitado em todos os aspectos), mas uma grande mensagem 5/10

Site Oficial


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2 comentários:

Anónimo disse...

O filme começa com uma afirmação do Matt:
- "Não consigo lembrar-me da Sally vestida”

É este o resumo do filme.

Anónimo disse...

Aliás, não creio que depois de ver o filme alguém consiga visualizar a "Sally" vestida...